borboletas


Era uma vez uma rapariga. Que tinha quase sempre razão, coração de pedra, orgulho erguido, apaixonada pela noite, casada com a Lua e amante das estrelas. Respiração sôfrega, palpitação nula. Desejada por muitos, invejada por todos. Amarga e frio, tinha o mundo nas mãos. A sua voz grossa, consumida pelo gelo do seu coração, grita pela madrugada fora. Os seus olhos castanhos, devoram as sete cores do arco-íris. Companheira da solidão, confidente do silêncio. Já não sabe sorrir, já não sabe chorar. Pressionada pela perfeição, consumida pelo ódio. Prisioneira do medo, viciada na mentira. Adora a chuva e o escuro, odeia os relâmpagos. Não confia em ninguém, nem nela própria. Já não sabe amar. Nunca escolhera ser assim. Aprendera com o tempo. Aprendera com todas as traições, com as vezes que caiu por terra e ninguém a levantou. Aprendeu a não ter mais saudades, a não sentir falta de nada. Aprendeu a vingança e o ódio. Aprendeu a traição e a vergonha. Aprendeu que não há príncipes nem princesas. Não há contos de fadas, nem um amor-perfeito. Aprendeu que nem 'tudo vai estar melhor amanhã'. Aprendeu a ser abandonada, aprendeu a não sentir. Aprendeu a esquecer quem não recordava mais o seu nome. Mas aprendeu acima de tudo, a amar aquela figura triste que se reflectia no espelho. Desculpem, a vida ensinou-me a ser assim.

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