quarta carta.Olá, mais uma carta, mais um dia, mais uma desilusão. Nesta carta pensei em transcrever melodias de uma vida feliz ou um conto de um casal apaixonado, até mesmo pensei em escrever sobre o toque de lábios na chuva ou o encontro de corpos pela primeira vez, pensei também em escrever sobre a perda e sobre a solidão, pensei até em escrever sobre ti, sobre um nós que se declarou ao fim, mas não, acho que vou escrever sobre mim.  Hoje estou a vestir uma roupa normal, e quente, estou a vestir o meu orgulho, e o pouco amor que ainda tenho por mim. Há tantas estrelas no céu, lembraste de me prometer uma? Dói-me o peito, o coração que já não tenho. Preciso de um banho, preciso de descansar, preciso de um abraço e de um estalo. Acordei a pensar que finalmente iria ter um bom dia, que ia ser feliz de vez. Ando a viver uma mentira, ando a ser uma mentira. Apetece-me um hambúrguer e uma coca-cola para beber junto da raiva que me ofereces. Vou seguir em frente, esquecer-te, deixar de me iludir com o 'vai ficar tudo bem' que todos me dizem. Eu entrego-me, sofro, choro, e digo que aprendi, depois entrego-me de novo, sofro de novo, choro de novo, e nunca chego a aprender. Não como à nove horas, não dormi esta noite continuo perdida. Pergunto-me tanto como estás sem mim, como será que alguém te vai fazer feliz como eu fiz? Não decifras o meu silêncio, onde estão escondidas todas as palavras que te quero dizer e atiras-me à cara todas as mentiras, em que nem tu acreditas.  É tanta merda junta, tanta coisa sem graça, que dá vontade de rir.  É tarde para arrependimentos, para recordações, para momentos e lembranças. É tarde. Acabaste por me esquecer, como os outros fizeram, não é? A partir de agora não esperes nada de mim, aliás, nem eu espero alguma coisa de mim. Não vou acabar a carta da mesma maneira que as outras. Vá, vai-te embora, deixa-me em paz, vais ser muito mais feliz sem mim.  Olha, antes de ires, devolve-me o meu sorriso e o meu coração. Até à próxima carta, e sim ainda te amo tal como antes.