borboletas




quinta carta.Olá meu amor. Não me perguntes como estou. Vais-me obrigar a chorar de novo? Hoje apercebi-me de como o tempo passa, de como ele se torna escasso, de como ele me foge entre as mãos como pequenos pássaros que anseiam chegar ao outro lado do mundo. Apercebi-me de como o tempo me goza, de como ele corre pelas memórias fora gritando o passado que temo que volte. Hoje sinto-me fraca como nunca, frágil, sinto-me idiota, perdedora de tudo aquilo que possuía. De tudo aquilo que possuía com aqueles que esqueceram o meu nome. E tenho medo, muito medo. Já só me sinto segura debaixo da água cristalina e transparente que o meu chuveiro escorre, sobre o meu corpo sujo de receios e pavores, enquanto ecoam nas paredes da casa de banho, as mais harmoniosas músicas que me lembram do nosso amor. Já só me sinto segura deleitada nos teus braços firmes, abertos para mim, entre as batidas do teu coração e o silêncio que faz triunfar a nossa sôfrega respiração. Permaneço com a mão erguida ao céu, o meu orgulho mantém-se naquele punho cerrado, que receio que volte a abrir. Permaneço sufocada pelos teatros tão ensaiados, pela vitória da mentira, que se ergue sempre em pune, triunfante de mais um coração partido. E tenho medo, tenho muito medo.

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